Sacerdote da jurema L'Omi L'Odò com a muda aos pés. Foto: Rafael Martins/DP
Muda de Jurema será plantada pela primeira vez em escola pública
Árvore é símbolo principal de religião de matriz indígena de mesmo nome
Matéria de Marcionila Teixeira.
Foto de Rafael Martins/DP.
Diário de Pernambuco, 08 de Junho de 2016. Local.
Uma muda de jurema, planta comum no Nordeste brasileiro e de grande significado para os seguidores da religião de matriz indígena de mesmo nome, será plantada nesta quinta-feira, pela primeira vez, em uma unidade de ensino pública do Brasil. O ato marca a Semana do Meio Ambiente na Escola de Referência em Ensino Médio Professor Cândido Duarte, em Apipucos, no Recife. O ato religioso e cultural também acontece em homenagem ao rei Malunguinho, líder da luta por liberdade de negros, negras e indígenas no Quilombo do Catucá, no século XIX.
Além de promover um debate sobre a relação das religiões de matrizes indígenas e africanas com o meio ambiente, o professor de geografia e direitos humanos, Rodrigo de Lima, também pretende marcar a data combatendo a intolerância religiosa e racial dentro da unidade de ensino, formada por 300 alunos do 1° ao 3° ano do ensino médio.
Rodrigo, que é catequista da Igreja Católica, costuma chamar o Quilombo Cultural Malunguinho, instituição voltada à informação, pesquisa e formação na cultura e prática afro indígena brasileira, para palestras na escola. “Sempre discutimos a consciência negra. Sigo a linha da teologia da libertação e considero importante quebrar a discriminação religiosa e racial. Temos muitos alunos evangélicos e católicos e há dois anos já estamos discutindo o tema”, explica.
Alexandre L’Omi L’Odò, sacerdote da Jurema e fundador do Quilombo Cultural Malunguinho, fará palestra sobre a contribuição das religiões afro-indígenas para a preservação ambiental. Em seguida, estará à frente do ritual de plantio da jurema no terreno da escola, que será acompanhado pelos alunos. "Este pé de Jurema será plantado como símbolo de esperança na luta contra o racismo e a intolerância religiosa, assim como para fortalecer o respeito à diversidade e garantir no espaço da escola um patrimônio de memória viva dos povos indígenas que nesta terra já habitavam antes da chegada dos colonizadores brancos e dos negros e negras escravizados", reflete Alexandre.
A muda tem um metro e pode atingir cinco metros de altura com sete metros de copa. “A jurema sagrada é deusa- mãe, é o centro de tudo na religião. É de onde tiramos toda a força e enregia da natureza para trabalhar na religião. Os indígenas do Nordeste conheciam a planta muito antes dos colonizadores”, explica.
Em 2005, a professora de história Célia Arruda plantou um baobá, árvore de origem africana, na Escola de Referência de Ensino Médio (EREM) Mariano Teixeira, em Areias, Zona Oeste do Recife, para trabalhar também temas relacionados ao meio ambiente e à cultura negra. A árvore é um dos símbolos do movimento negro no Brasil. Hoje, a lei 11.645, que altera a 10.639, inclui o ensino da cultura e tradições indígenas nas escolas.
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com
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