Quem nos subalternisa e nos escraviza são os mesmos que se aproveitam da nossa desqualificação perante ao conhecimento de nossas proprias tradições e história. Somos todos herdeiros de uma imensa catástrofe humana (a escravidão) e o que nos restou foi viver como sobreviventes tentando ainda nos recompor de tantos traumas. Isso nos dificulta evidentemente de superar certas pautas.
Mas isso tudo não nos impede de qualificarmo-nos intelectualmente para combater este processo racista histórico. Se nós mesmos não sabemos nossa história, fica dificil dialogar com o mundo! Temos que nos preocupar sim com aprender o que infelizmente dentro dos terreiros não conseguimos ter acesso. Estudar e ocupar os espaços de poder faz parte de nossa estratégia para superar nossos traumas. Devemos nos jogar no campo da disputa acadêmica. Quem tem que falar sobre nossa religião somos nós mesmos, não supostos pesquisadores incipientes e racistas de fora. A academia é racista, mas podemos reverter isso com a nossa comprometida participação nela.
Acordai Povo da Jurema e de terreiro em geral. Já é tempo de assumirmos nosso verdadeiro lugar na sociedade.
Lembro que devemos sempre partir do pressuposto da descolonização. Caso contrário não adianta ser acadêmico e fazer mais do mesmo e replicar a lógica dominadora e racista das instituições e currículos ocidentalizadas e cristianizados.
Na foto, estou aos pes de um grande Pé de Angico, árvore sagrada do panteão fitocêntrico da Jurema. De sua madeira fazemos nossos cachimbos de ciência. Das cascas, remédios diversos. Das folhas curamos e benzemos. Das raizes fazemos chás e bebidas. Ela é uma cidade da Jurema muito importante.
Para mim é um orgulho hoje ter aprendido como reconhecer um verdadeiro angico e saber de sua força no sertão. Juremeiro que não tem intimidade com a natureza não é juremeiro. Ser juremeiro é essencialmente saber das coisas da natureza.
"Angico, meu angico, pau de força e de luz. Daí saber aos senhores mestres, na santa paz de "Jesus""!
Foto de José Edson.
Fonte: Alexandre L'Omi L'Odò
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