04 abril 2012

Entrevista com o Ator Sérgio Laurentino, o Exú do Filme "Besouro"



Ofensiva Negritude - Como você decidiu ser ator?  Fale um pouco sobre o início da sua carreira. 

Sérgio Laurentino - Aos 16 anos, no centro espirita que frequentava. Depois fui componente da Legião Artística Enigma do Duque de Caxias e do Bando de Teatro Olodum, em que estou até hoje. 10 anos lá.




ON - Em algum momento você sentiu que ser negro prejudicou dificultou ou impediu que conseguisse determinados papéis?

SL - O problema do Brasil não é os atores e sim os personagens. É por isso que estou no Bando, para a mudança desta dramaturgia. O problema que ocorre aqui para todos os atores negros é falta de personagem negros.



ON - Besouro levou ao cinema quase 500 mil pessoas, esse público alcançou as expectativas?

SL - Sim. No Brasil o Besouro é um projeto mundial. Veja que em dezembro ele estava sendo exibido em Cuba. Ainda a meta era alcançar 1 milhão de espectadores em todo o mundo.


ON - Como foi para você, adepto de uma religião afro, interpretar Exu? E especificamente qual é a sua religião?

SL - De suma importância para a mudança estética e religiosa deste país. Sou do Candomblé.



ON - É verdade que você não lutava capoeira? Após as gravações continuou praticando?

SL - Sim. Hoje em dia estou parado, muito trabalho. Mas virei fã da Capoeira, do seu comportamento estético. É lindo estar na roda.




ON - As portas já começaram a se abrir após o filme Besouro? Pretende fazer algum trabalho na televisão?

SL - Sempre pretendo trabalhar. O que falta é trabalho. Depois do Exú fica difiíil fazer qualquer coisa. Tem que fazer algo da mesma importância.



ON - Qual a importância da África na construção da sua identidade negra?

SL - Acho que o que nos move é o pensamento no culto aos ancestrais. Se não fosse isso certamente seria mais um por aí tentando mostra que sou bom no que faço e fazendo qualquer coisa. Tenho algumas propostas de trabalho baseadas no que sou : afrobrasileiro. Então a África é sem dúvida importante na minha construção.



ON - As mulheres negras na escala do racismo sofrem mais que os homens negros, 
para você só se relacionar com negras é uma forma de valorizá-las e autovalorizar-se? 
Como você avalia os relacionamentos interraciais?

SL - O que conta é o amor sempre e não acreditar nesta radicalidade; é ostentar a não existência do espírito ou ancestralidade. Antes de mim existiram negras e negros que se relacionaram com outras raças e sem esquecer que dentro deste país teve uma mistura de muitas etnias de nossa raça. Então fica difícil ostentar este pensamento. É claro que prefiro estar com negras, mas o amor é sempre inesperado.



ON - Você tem algum grande ídolo negro? Quem é? Qual o motivo de sua admiração?

SL - Grande Otelo, porque era completo: dançava, cantava e atuava como ninguém.




ON - Você considera possível que num futuro próximo o Brasil crie um filão de produções artísticas produzido e voltado para o povo negros assim como existe nos EUA? Você participaria de uma iniciativa dessa natureza?

SL - É o que estou em busca agora, o crescimento deste pensamento. Aguarde supresas.




ON - Como você vê a situação dos afro-brasileiros atualmente?

SL - Houve mudanças. O racismo hoje é mais sutil. Mas não se enganem. Ele está por aí.
No dia que você desembarcar em Salvador e ver 80% dos outdoors com negros nós estaremos a 60% do fim do ridículo.


ON - Você é contra ou a favor das cotas nas universidades?

SL - Sou a favor da totalidade negra na faculde. Mas é claro que as cotas são um bom começo.



ON - Algum recado final para os leitores do blog?

SL - Em fevereiro estarei em cartaz no Vila .


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