07/06/19 17:28
Naíse Domingues*
A Comissão de Combate à intolerância religiosa (CCIR) quer se reunir com o governador Wilson Witzel para discutir medidas de proteção aos terreiros atacados na Baixada Fluminense. Neste primeiro semestre, 38 casos de intolerância religiosa na região chegaram até a comissão. Destes, 15 em Duque de Caxias, dez em Belford Roxo, dez em São João de Meriti e três em Nova Iguaçu.
Desde o início do ano, a comissão vem recebendo denúncias sobre diversos casos de intolerância religiosa. Em relatório, o Conselho de Defesa dos Direitos do Negro e Promoção da Igualdade Racial e Étnica de Duque de Caxias reuniu depoimentos de pais e mães de santo. Segundo os relatos, os dirigentes de terreiros estão sendo coagidos por traficantes a cessarem as atividades dos templos.
– A ideia é que o governador leve os secretários da Polícia Civil e da Polícia Militar. Com a presença de Witzel, será feito um documento da situação dos terreiros. Muitos casos não chegam à polícia pelo medo que as pessoas têm de denunciar. Precisamos pedir políticas públicas e um reconhecimento dessa situação por parte do Estado – analisa o Babalawô Ivanir dos Santos, pai de santo e interlocutor da CCIR.
Um documento sobre os casos de intolerância religiosa no estado dos últimos seis meses será entregue ao governador até o fim do mês de junho. Também serão entregues sugestões de políticas públicas para atender aos terreiros afetados, com plano de segurança de vida e reparação aos sacerdotes. As denúncias e relatos de intolerância religiosa em todo o Estado do Rio de Janeiro serão monitoradas por uma equipe da CCIR em conjunto com a Rede Agen Afro, ONG que apura e acompanha denúncias contra casas de Umbanda e Candomblé.
Sacerdotes expulsos na Baixada Fluminense
Desde o início do ano, dirigentes e praticantes das religiões de matriz africana vêm sofrendo ameaças na Baixada Fluminense. Traficantes que se dizem evangélicos ameaçam e ordenam o fechamento de terreiros.
Em um dos casos relatado por um babalorixá de Duque de Caxias, traficantes foram até o local avisar que estava proibido tocar “macumba” naquela região. Os trabalhos sociais do terreiro, segundo ele, foram autorizados a continuar, desde que não houvesse toque de atabaque, nem pessoas vestidas de branco circulando. Os bandidos também exigiram que o tráfico fosse avisado com um dia de antecedência sobre as atividades.
O dirigente de um dos terreiros que foi fechado na Baixada, um pai de santo, conta que teve rituais internos interrompidos no início do mês de maio. Os traficantes deram uma semana para “acabar com isso tudo”. O dirigente, que mora no local com a mãe, diz que tem evitado sair às ruas e que já foi abordado por traficantes armados que perguntam se ele “já acabou com a macumba?”.
A comissão aguarda confirmação do gabinete do governador para confirmar a data da reunião. O encontro deve acontecer no auditório do Tribunal de Justiça e reunir parlamentares, líderes importantes como o presidente da OAB e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Para Ivanir, é essencial a participação de líderes evangélicos nos encontros.
– Precisamos sair da ideia que somos nós e eles. Na verdade, são traficantes que se dizem evangélicos e fazem isso. Essas lideranças precisam se posicionar, mostrar que esse tipo de atitude é errado.
*Estagiária sob supervisão de Luciano Garrido
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