Familiares de menina apedrejada e representantes religiosos caminharam juntos na Vila da Penha
O DIA
Rio – Pessoas de diferentes religiões se reuniram na manhã deste domingo no Largo do Bicão, na Vila da Penha, na Zona Norte, para protestar contra a intolerância religiosa após o apedrejamento da menina candomblecista Kailane Campos, de 11 anos. Usando vestimentas próprias de suas crenças, eles caminharam até o local onde a menina foi agredida. Tanto a família de Kailane quanto o pastor que organizou a passeata disseram estar surpresos com a adesão ao ato, que reúne cerca de 500 pessoas.
Protesto contra intolerância uniu na manhã deste domingo diferentes religiões no Largo do Bicão, na Vila da Penha, na Zona Norte
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
“Não esperávamos tantas pessoas unidas nesse ato. É importante que juntemos todos os segmentos religiosos. Mostramos que somos todos irmãos independente de religião”, declarou a avó da menina, conhecida na religião como Vó Kathi, Kátia Coelho Marinho Eduardo, de 53 anos.
A marcha foi organizada pelo pastor João de Melo, da Primeira Igreja Batista em Vila da Penha. “Repudiamos qualquer ato de intolerância, anunciamos um Senhor que é paz e amor”, afirmou o pastor. “Não poderíamos nos calar diante desse fato porque Cristo não se calaria”, disse.
Ao ser perguntada se perdoa os agressores da filha, Karina Coelho afirmou que “quem perdoa é Deus”. “Não vou ser eu que vou apontar para os outros”, declarou a mãe de Kailane. Ela ainda ressaltou a importância de conviver bem com outros segmentos religiosos. “Sempre fui criada com uma família com várias religiões. Não vou negar a minha família”, disse.
No último dia 14, Kailane Campos, de 11 anos, levou uma pedrada na cabeça por estar vestida com roupas do Candomblé
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Intervenção do governo
O babalorixá Ivani dos Santos também destacou a importância da união entre diferentes segmentos religiosos e pediu uma intervenção do governo. “Esse fato da intolerância religiosa acontece todos os dias, há perseguições em escolas “, declarou o religioso. “É uma atitude fascista que não condiz com a atitude de uma sociedade democrática. Quando você tenta impor uma doutrina sem respeitar a do outro, isso te torna um fascista”, completou o babalorixá.
“O estado precisa tomar uma posição, ele precisa convocar as lideranças evangélicas e de outras religiões para sentar e discutir uma pauta em comum sobre intolerância. Essa questão não aconteceu só com a menina”, afirmou. “Também não dá para tirar responsabilidade de maus pastores”, completou.
O ator reuniu ainda a responsável pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos, Teresa Cosentino e o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que falou sobre a discriminação da religiões de matriz africana. “Há muito mais afrofobia do que cristofobia”, declarou ao dizer que o respeito deve existir para todas as religiões.
“Eu como representante da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados posso afirmar que a Câmara é unânime e somos contra a intolerância religiosa”, disse Chico Alencar. “Os atos de intolerância religiosa já são considerados crime na Constituição, mas é preciso colocar isso em prática”, completou.
Reportagem de Gabriela Mattos