08 março 2012

Terreiro “VIVA-DEUS”, Mais de 100 anos de história



AXÉ “ZÉ DO VAPOR” – TERREIRO “VIVA-DEUS” – UM CENTENÁRIO DE HISTÓRIA. 1910-2010

JOSÉ DOMINGOS DE SANTANA - "ZÉ DO VAPOR" - FUNDADOR DO TERREIRO "VIVA-DEUS".
José Domingos de Santana – “Zé do Vapor”- fundou em 19 de março de 1910 o Terreiro Viva-Deus, na cidade de Cachoeira, Bahia, na localidade conhecida como Terra Vermelha, inaugurando o Terreiro em 24 de junho de 1911 .
A história das terras em que está plantado esse Axé centenário confunde-se com a própria resistência cultural e religiosa afro-descendente naquela localidade, se iniciando bem antes de sua fundação.
O proprietário original das terras se chamava Manoel Tranquilino Bastos, tradicional cidadão Cachoeirano, fundador da reconhecida Orquestra Filarmônica Sociedade Euterpe Lira Ceciliana da Cidade de Cachoeira; homem de letras, espírita, homeopata, vegetariano e conhecido abolicionista. O maestro Tranquilino Bastos utilizava aquele local como refúgio para os negros fugidos da região, visto ser um local com difícil acesso à época.

MAESTRO MANOEL TRANQUILINO BASTOS
Tranquilo Bastos sofreu uma grande aflição quando sua amada esposa, Sra. Blandina, apresentou um mal em sua saúde sem diagnóstico preciso e que a levou quase à morte. Assim, buscou socorro com Zé do Vapor, pois sabia que o mesmo atuava nos processos relacionados à cura, fazendo seus trabalhos na casa da rua do Carmo, no centro de Cachoeira.
Conta-se que Zé do Vapor, depois de realizar um trabalho espiritual, conseguiu fazer regredir todo o quadro da doença que acometia a mulher do maestro.
Profundamente agradecido, o maestro Tranquilino ofertou a Zé do Vapor parte das terras de sua fazenda que já era conhecida como Fazenda “Viva-Deus”. E assim nascia a comunidade “Viva-Deus”.
Zé do Vapor nasceu em 05 de maio de 1870, na cidade de Santo Amaro da Purificação e foi iniciado no culto aos orixás no final do século XIX para o Orixá Ogum Wari, por uma “tia” conhecida como “Mariana Africana”, provavelmente na cidade de Salvador, havendo registros orais que teria sido iniciado na “língua de vaca”, acreditando fazer referência ao fundamentos do Axé de origem Ijexá, no bairro do Garcia-SV.

Porto de Cachoeira - Rio Paraguaçu
Zé do vapor era assim chamado por trabalhar na cantina do navio a vapor “Cachoeira”, embarcação que fazia a ligação do porto de cachoeira à cidade de salvador, navegando pelas águas do rio Paraguaçu em direção a baía de todos os santos.
Zé do Vapor foi contemporâneo de várias figuras célebres do candomblé Cachoeirano, como Ventura, Olegário, Purunga, Tio Salakó, Faustino Catuaba, Domingos do “Fato” e Justino.
Nos anos seguintes de sua inauguração, o Terreiro “Viva-Deus” desenvolveu-se de forma grandiosa, agregando muitos adeptos provenientes da cidade de Cachoeira, de cidades vizinhas e de Salvador.
Zé do vapor deixou uma descendência religiosa de grande prestígio como Misael de Oyá, Manoel Rodrigues Soares Filho (Neive Branca), Arthur Hilário (Tutu de oxum), Iyá Teófila de Oxum, Eurídes Silva de Jesus (Iyá Perina de ajunsu), Maria do Patrocínio de Jesus (Iyá Pitiká de Ogum), dentre outros.

BABALAXE MISAEL DE OYA
BABALAXE MISAEL DE OYA
Com o falecimento de Zé do Vapor em 1938, assume a roça Iyá Teófila e, posteriormente, Misael Pinheiro dos Santos – Misael de Oya – nascido em 07 de março de 1913.
Declarado em 25 de fevereiro de 2001 pela Fundação Palmares “território cultural afro-brasileiro”, o Axé “Viva-Deus” espera um dia, sensibilizar as autoridades de nosso país que detém o poder de decidir pelo tombamento desse patrimônio cultural, preservando, assim, toda a história centenária que ele contém.






BABALAXE LUIZ SÉRGIO BARBOSA DE OXALÁ
BABALAXE LUIZ SÉRGIO BARBOSA DE OXALÁ
No ano de 1981, assume a direção do Axé Luiz Sérgio Barbosa – Pai Sérgio de Oxalá –, iniciado em 1936, aos 17 anos, pelo próprio fundador do Axé.

O Babalaxé Luiz Sérgio fortaleceu as festividades anuais do axé; realizou diversas obras estruturais e de reforma, reerguendo e construindo um grande parte do patrimônio que hoje ali encontramos.
Originalmente os rituais realizados apresentavam características relacionadas ao culto Nagô-Vodum, porém encontram-se ainda hoje na roça, ladeando os Atinsá, locais de culto aos Nkise, remanescentes de um tempo em que havia uma inter-relação entre os diversos saberes religiosos. Literaturas dão conta, ainda, que o ali se realizava um culto Nagô-Ijexá. Atualmente o culto tem características Yorubá-Ketu.
Embora ainda seja pouco conhecido da maioria dos adeptos do culto de candomblé em nosso país, o Axé “Viva Deus” é citado em importantes livros que tratam sobre comunidades tradicionais em território Cachoeirano, como o livro “Gaiaku Luíza e a trajetória do Jeje-Mahi na Bahia”, de autoria de Marcos Carvalho e o livro “Nagô. A nação de ancestrais itinerantes”, do Professor Dr. Vilson Caetano de Souza Junior.

Visando promover a perpetuação para as gerações vindouras de todo o patrimônio material e imaterial, o Babalaxé Luiz Sérgio deflagrou há sete anos o processo de tombamento perante o instituto do patrimônio histórico e artístico e nacional (IPHAN), infelizmente encontrando-se arquivado.

Yá Perina
PITIKÁ DE OGUM

 Em fevereiro de 2011 a comunidade do Terreiro Viva-Deus reuniu-se para comemorar os 100 anos da inauguração do Terreiro, juntando as diversas casas que compõe a grande família do Axé “Zé do Vapor”.

O texto acima é uma contribuição do Sr. Mario Jorge Souto, Ogan do Ile Axé Awon Omo Eledumare-RJ, Raiz do Axé Zé do Vapor.

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